RESENHA | Túnel de Ossos: Paris, Fantasmas e Suspense


Cassidy Blake nunca viaja sozinha, mesmo quando está rodeada de gente viva. Desde que escapou por um triz da morte e ganhou a habilidade de cruzar o véu que separa os dois mundos, ela anda lado a lado com Jacob, seu melhor amigo… e um fantasma. Juntos, eles já enfrentaram o suficiente para saber que o perigo gosta de se esconder onde menos se espera. 

Agora, no segundo livro da trilogia A Cidade dos Fantasmas, de Victoria Schwab, acompanhando os pais nas gravações de Os Espectros (o programa de TV que investiga os lugares mais assombrados do mundo), Cass chega a Paris. A cidade parece o oposto do sombrio: luzes, cafés, croissants, um ar quase mágico. Mas, sob toda essa beleza, há um outro tipo de encanto, um que vive nas sombras e se alimenta do medo. 

Durante uma visita às famosas catacumbas, Cass sente algo diferente no ar. Um sussurro, um frio repentino, o tipo de aviso que ela aprendeu a não ignorar. Só que desta vez, sua curiosidade a leva longe demais. Sem querer, ela desperta um poltergeist, um espírito inquieto e poderoso, capaz de mover objetos, abrir portas e espalhar o caos por onde passa. E quanto mais tempo ele permanece livre, mais forte se torna.

Enquanto tenta esconder o que aconteceu dos pais, Cass precisa encontrar um jeito de conter a criatura. Com a ajuda de Jacob, que também carrega seus próprios medos sobre o que significa “seguir em frente”, e de Lara, uma garota que entende bem o que é ser uma caçadora de fantasmas, ela mergulha nas profundezas de Paris para entender o passado do espírito e, talvez, dar a ele o que precisa para descansar. 

Esse livro foi um deleite na minha maratona de Halloween. Me propus a ler cinco livros ao longo de outubro e comecei com Boneca de Ossos, da Holly Black, que, infelizmente, não me agradou tanto. Então eu precisava de uma leitura que me divertisse, que reacendesse o clima da maratona, e Túnel de Ossos foi exatamente isso. Devorei em três dias (e só não foi em um porque tenho as responsabilidades de uma mulher adulta, claro).

A história é uma delícia de acompanhar, a escrita da Victoria Schwab é fluida, envolvente e tem aquele toque de terror adolescente que eu gosto. A dinâmica entre Cass e Jacob continua sendo um dos grandes destaques da trilogia até aqui. Li o primeiro volume no ano passado e já tinha gostado bastante, mas neste segundo a interação entre os dois está ainda mais afiada e divertida. Jacob tem as melhores tiradas nos momentos certos, servindo como um alívio cômico perfeito em meio à tensão sobrenatural que toma conta da trama.

A narrativa tem um ritmo ágil, não se arrasta em nenhum momento e mantém o leitor curioso o tempo todo. A cada capítulo, é como se ela soubesse o ponto exato de equilibrar o susto com o riso, o suspense com o afeto. É o tipo de livro que a gente “só vai ler mais um capítulo” e, quando vê, já terminou. 

Além disso, o cenário de Paris traz uma atmosfera completamente nova. As descrições das catacumbas, os túneis repletos de ossos e os ecos da cidade subterrânea criam um contraste fascinante com a leveza da escrita. Schwab consegue dar vida (ou morte) a esse espaço claustrofóbico de um jeito que nunca pesa, mas ainda assim arrepia.

De modo geral, Túnel de Ossos é aquele tipo de livro que entrega exatamente o que promete, uma aventura sobrenatural cheia de energia, humor e coração. Ele não tenta ser grandioso, mas conquista pela leveza com que mistura amizade, coragem e mistério. 

É o tipo de leitura que te lembra por que histórias de fantasmas podem ser tão encantadoras: não pelo medo que causam, mas pelo que revelam sobre estar vivo. Fechei o livro com a sensação gostosa de ter acompanhado uma boa história.

Nota

Túnel de Ossos

Autor(a): Victoria Schwab
Tradução: Carolina Simmer
Ano: 2021
Editora: Galera Record
Páginas: 251


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