Guerra, romance, mitologia própria e toques de magia. Esses são os ingredientes que resultam na duologia de Divinos Rivais, escrito pela escritora norte-americana, Rebecca Ross. A trama acompanha Iris Winnow, uma jovem que vê seu irmão, Forest, partir para uma guerra travada entre dois deuses, Dacre e Enva — divindades que muitos acreditavam estar adormecidas.
Enquanto a guerra se desenrola, Iris disputa uma vaga de colunista no jornal mais prestigiado da cidade. Seu concorrente é Roman Kitt, herdeiro de uma das famílias mais ricas da região. No entanto, a rivalidade entre eles toma um rumo inesperado quando as cartas que Iris escreve para o irmão começam a chegar magicamente às mãos de Roman. Por um longo tempo, ele apenas as lê, sem responder. Até que, certa noite, decide escrever de volta, falando que não é Forest, mas não revela sua verdadeira identidade.
Os dois passam a trocar cartas, construindo um vínculo cada vez mais profundo, mesmo sem que Iris saiba a verdadeira identidade de seu correspondente. Acompanhar esse amor florescendo é envolvente e já nas primeiras páginas o livro me conquistou. Talvez isso se deva ao fato de eu também ser jornalista, tornando ainda mais interessante observar a rotina de ambos na redação. Além disso, a dinâmica entre Iris e Roman é um dos grandes trunfos da narrativa, pois, desde o início, a química entre eles é inegável.
“Acho que todos nós usamos armadura. Acho que aqueles que não o fazem são tolos, arriscando-se a sofrer a dor de serem feridos pelas arestas afiadas do mundo, repetidamente. Mas se aprendi alguma coisa com esses idiotas é que ser vulnerável é uma força que muitos de nós tememos. É preciso coragem para baixar a armadura, para aceitar que as pessoas vejam você como você é.” (Pág. 101)
A narrativa começa a ganhar ritmo quando Iris decide se tornar correspondente de guerra. É aqui que começa o grande mote do livro que vamos acompanhar pelo restante da leitura. E, curiosamente, um campo de batalha, onde podemos sentir muita tensão e tristeza, se torna cenário de um amor avassalador.
Vale destacar que o foco do livro está no romance, enquanto a mitologia e os elementos fantásticos permanecem em segundo plano, surgindo apenas em pequenas doses ao longo da trama. Isso, no entanto, não compromete o encanto da história, já que a relação entre os protagonistas—e até mesmo entre os personagens secundários—é tão bem desenvolvida que o leitor se envolve e se importa com cada um deles. Embora o romance traga alguns clichês, Rebecca Ross equilibra esses elementos com traços de originalidade, tornando a leitura envolvente e cativante.
Ao longo da leitura, a tensão da guerra se torna cada vez mais palpável, culminando em momentos de ação intensos que nos transportam diretamente para o front, especialmente no terceiro ato da narrativa. Portanto, não espere um romance monótono. Há muita ação entrelaçada ao doce amor que permeia Iris e Roman.
“Ele me encontrou no meu dia mais sombrio. Ele me seguiu até a guerra, até a linha de frente. Ele se interpôs entre mim e a Morte, sofrendo ferimentos que deveriam ser meus.” (Pág. 338)
Outro aspecto que merece destaque é o jogo político que se desenrola nos bastidores do conflito. Divinos Rivais não se limita a um romance superficial, Rebecca Ross constrói uma trama onde o poder e a manipulação são peças-chave. Vemos figuras influentes tentando convencer a população de que a guerra nunca chegaria a Oath, uma cidade que funciona como uma espécie de capital (essa informação não é dita no livro, mas eu interpretei desta maneira). Ao mesmo tempo, há uma forte disputa ideológica, com líderes e personalidades públicas manipulando a opinião popular para apoiar Dacre, o deus mais sanguinário e inescrupuloso da guerra.
Enquanto isso, jornalistas, incluindo Iris, arriscam-se na cobertura do conflito para alertar que o perigo é real e inevitável. Teria sido ainda mais enriquecedor se a autora tivesse explorado essa questão com mais profundidade, ampliando o impacto dessa discussão dentro da narrativa.
De qualquer forma, assim que terminei este livro, não resisti e peguei imediatamente o segundo para ler. O gran finale é arrebatador, deixando aquela necessidade urgente de saber o que vem a seguir. Divinos Rivais me conquistou por completo, e por isso, merece cinco cafezinhos. (Sim, aqui vamos dar cafés ao invés de estrelas.)
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